quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

UMA SAUDADE QUASE DOLORIDA

 RASTROS DE LAMBARI/MG

 O BAR DO JUCA, agora Banco do Brasil, tinha guardado sob seu telhado amplo a padaria anexada aos espaços restaurante, sinuca, carteado...  

Ainda de madrugada, saiam vários entregadores de pães. E com a enorme cesta de vime nas costas, lá iam eles para os diversos bairros deixando a quantidade combinada na janela ou no alpendre das casas. Já com o sol alto voltavam e prestavam conta da entrega ou da venda avulsa.

  Próximas ao Bar aberto dia e noite as ruas, forradas com paralelepípedos escuros, completavam a aura romântica daqueles dias idos.

  A certa hora da noite, chegavam às praças e ruas centrais os bailarinos anônimos com as vassouras de cabos longos; moviam-se de um lado para outro produzindo o som característico tchua, tchua, tchua  juntando e recolhendo os rejeitos dos insensatos — os ruídos, ecoando às vezes em ruas distantes, representavam para alguns o sonho poético e para outros uma doce canção de ninar.

  Quando o dia despia a noite, não se achava sequer uma ponta de cigarro nas gretas dos paralelepípedos. A cidade estava limpa, jovial e bela.

 Da porta do Bar do Juca dava para enxergar a grade fixada nas grossas paredes que “cinturavam” o Parque das Águas — vigiado por um guarda dia e noite.

Na esquina à esquerda de quem olhava do Bar existiam na parede do muro duas cabeças esculpidas em pedra sabão que jorravam pelos lábios semiabertos o líquido gasoso com a transparência do ar; um bem grátis para mitigar a sede ou molhar os olhos dos que se recusavam a ir dormir.

  Seguindo pela Rua São Paulo (atual Dr. Wadih Bacha), depois do Bar Pinguim, chegava-se à Fonte Luminosa, onde ao anoitecer via-se o jato de água colorida com as mãos-postas para o céu; e lá de cima formava uma névoa que flutuava nas alturas e, feito lençóis transparentes, descia conforme a brisa mandasse — umedecendo cabelos e rostos alegres daquela gente quase ingênua de tanto sonhos bonitos.

 Um pouco mais à frente, como quem vai para o bairro do Campinho, dava para ver o cinema e as letras A B I na vertical. A última exibição terminava as vinte e duas horas. Logo na entrada do térreo, com ar opressor, havia uns assentos reservados à polícia. Um auditório grande aberto a todos, inclusive para os meninos que vinham da zona rural e perambulavam descalços... A sala do piso superior, essa ficou sem ter condições de ser descrita — pés descalços não podiam subir ou pisar naqueles degraus.

Jorge Lemos

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