RASTROS DE LAMBARI/MG
O BAR DO JUCA, agora Banco do Brasil, tinha
guardado sob seu telhado amplo a padaria anexada aos espaços restaurante,
sinuca, carteado...
Ainda de madrugada, saiam vários
entregadores de pães. E com a enorme cesta de vime nas costas, lá iam eles para
os diversos bairros deixando a quantidade combinada na janela ou no alpendre
das casas. Já com o sol alto voltavam e prestavam conta da entrega ou da venda
avulsa.
Próximas ao Bar aberto dia e noite as ruas, forradas com paralelepípedos
escuros, completavam a aura romântica daqueles dias idos.
A certa hora da noite, chegavam às praças e ruas centrais os bailarinos
anônimos com as vassouras de cabos longos; moviam-se de um lado para outro
produzindo o som característico tchua, tchua, tchua juntando e recolhendo os rejeitos dos
insensatos — os ruídos, ecoando às vezes em ruas distantes, representavam para
alguns o sonho poético e para outros uma doce canção de ninar.
Quando o dia despia a noite, não se achava sequer uma ponta de cigarro
nas gretas dos paralelepípedos. A cidade estava limpa, jovial e bela.
Da porta do Bar do Juca dava para enxergar a
grade fixada nas grossas paredes que “cinturavam” o Parque das Águas — vigiado
por um guarda dia e noite.
Na esquina à esquerda de quem olhava
do Bar existiam na parede do muro duas cabeças esculpidas em pedra sabão que
jorravam pelos lábios semiabertos o líquido gasoso com a transparência do ar;
um bem grátis para mitigar a sede ou molhar os olhos dos que se recusavam a ir
dormir.
Seguindo pela Rua São Paulo (atual Dr. Wadih Bacha), depois do Bar Pinguim,
chegava-se à Fonte Luminosa, onde ao anoitecer via-se o jato de água colorida
com as mãos-postas para o céu; e lá de cima formava uma névoa que flutuava nas
alturas e, feito lençóis transparentes, descia conforme a brisa mandasse —
umedecendo cabelos e rostos alegres daquela gente quase ingênua de tanto sonhos
bonitos.
Um pouco mais à frente, como quem vai para o bairro
do Campinho, dava para ver o cinema e as letras A B I na vertical. A última
exibição terminava as vinte e duas horas. Logo na entrada do térreo, com ar
opressor, havia uns assentos reservados à polícia. Um auditório grande aberto a
todos, inclusive para os meninos que vinham da zona rural e perambulavam
descalços... A sala do piso superior, essa ficou sem ter condições de ser
descrita — pés descalços não podiam subir ou pisar naqueles degraus.
Jorge Lemos
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